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quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

‘Eu acho que o PSDB é bandido': é de Chico a Frase do Ano. Por Paulo Nogueira

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Aula de civilidade

Chico é autor de muitas das mais lindas e pungentes frases em língua portuguesa.
Algumas:
A felicidade morava tão vizinha que de tolo até pensei que fosse minha.
Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu.
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego.
Mas foi longe de sua atividade de compositor que ele produziu sua melhor frase em muitos anos.
Eu acho que o PSDB é bandido.
Foi de improviso, sem reflexão, sem um caderno e uma caneta nas mãos, num fim de noite no Leblon. E não foi no silêncio ideal para juntar palavras, mas diante do alarido agressivo e atrevido de jovens analfabetos políticos que se sentiram no direito de importuná-lo depois de um jantar.
Era preciso que alguém, enfim, juntasse essas duas palavras: PSDB bandido. Como foi Chico, isso imediatamente se espalhou pelas redes sociais. Mesmo a mídia tão amiga do PSDB foi obrigada a dar, contrariada, a sentença de Chico.
Ao contrário dos vociferantes analfabetos políticos, Chico não ergueu a voz. Manteve o sorriso amistoso nos lábios, em vez da carranca dos que o cercavam. Ele poderia estar dando boa noite a eles, paternalmente.
Mas disse que para ele o PSDB é bandido.
A importância da frase reside na contestação da ideia, insuflada tenazmente pela mídia, de que o PT é bandido e o PSDB mocinho.
Nunca ninguém, muito menos alguém com a estatura de Chico, dissera tão claramente que o PSDB é bandido.
Não que seja: muito mais que bandido, o PSDB é reacionário, atrasado, golpista e péssimo perdedor. Chico estava apenas mostrando a insignificância desprezível deste clichê – PT bandido – que tanto contribui para a existência hoje de dois Brasis, um dos quais, o representado pelos antipetistas que o assediaram, odeia o outro.
Chico deu, de bônus, outra frase soberba, a que associou aquele tipo de comportamento feroz à leitura da revista Veja.
Leia a Veja e você se transformará num idiota como aqueles que abordaram Chico. Repetirá mentiras, dirá asneiras, se encherá de preconceitos: será, enfim, um perfeito idiota brasileiro.
Do alto de sua grandiosa estupidez, você se achará em condições de dizer para provavelmente o maior compositor da história da música brasileira: “Você é um merda!”
Chico, a seu jeito, contribuiu para o retorno do Brasil a um grau de civilidade perdido com a proliferação de analfabetos políticos.
Se a discussão fosse futebolística, e não política, Chico teria ouvido o seguinte: “O Fluminense é um horror.” E teria respondido: “Pois para mim o Flamengo que é um horror. E daí?”
E daí que podemos ter nossos gostos e preferências sem agredir os outros. A tolerância pode triunfar sobre a intolerância, a civilização sobre a barbárie, os bons modos sobre a grosseria, o bom humor sobre a rispidez. (Em sua página no Facebook, Chico postou, com seu humor de carioca, a música Vai Trabalhar, Vagabundo!)
Numa palavra, o mundo de Chico – e não estou falando de ideologia — pode triunfar sobre o mundo dos desordeiros que perturbaram sua paz no Leblon. Por tudo isso, é de Chico a frase do ano.
Eu acho que o PSDB é bandido.
:o)

continuando...


Quem são os coxas com quem Chico bateu boca — e por que ele os incomoda. 


Chico Buarque ama o Rio de Janeiro, entre outros motivos, porque pode circular ali à vontade. Faz caminhadas e corridas com regularidade, sem que ninguém o incomode, a não ser um ou outro fã para uma selfie.
Ou fazia. 
Chico vai ter de rever seus conceitos com relação a seus exercícios em sua cidade. Não são mais os paparazzi flagrando seus jantares com a namorada a uma distância regulamentar. 
Agora são fascistinhas em bando que acham normal tolher o direito de ir e vir. 
Uma “playboyzada” — na definição de Emicida — achou natural abordar de maneira agressiva um sujeito que vê pela TV por causa de suas posições políticas. Dois dos palhaços foram identificados: Túlio Dek, um rapper que ninguém ouviu falar a não ser por seu namoro fugaz com a prima Cleo Pires, filha da atriz Glória Pires, registrado por revistas de fofoca; e o filho de Álvaro Garnero, Alvarinho.
Nenhum deles faz, como diria minha tia calabresa, porra nenhuma. Também não são obrigados, claro. Estavam, ao que parece, saindo do restaurante Sushi Leblon. O filho de Garnero causou controvérsia, recentemente, com um vídeo em que aparecia, alcoolizado, acariciando Ronaldo Fenômeno, que o chamava de namorado. 
O pai saiu em sua “defesa” quando o rapaz foi “xingado” de gay. Álvaro, auto intitulado “empresário”, apresentava um programa de turismo jabazeiro na Rede TV, viajando e se hospedando de graça. Nunca deu Ibope, mas a intenção não era essa, e sim viajar na picaretagem. Filiou-se ao PRB. Pega uma praia com o amigo Aécio quando a agenda permite.
Mário Garnero, pai de Álvaro, portanto avô de Alvarinho, esteve no centro do “escândalo Brasilinvest”, banco de investimentos que fechou em 1985 porque mais da metade de seus empréstimos fora contraída por empresas “fantasmas”.
Garnero foi indiciado pela Polícia Federal por estelionato, formação de quadrilha e operações fraudulentas no mercado financeiro. Em 1997, teve a prisão preventiva pedida pela Procuradoria Geral da República.
Esses moleques inúteis e mal nascidos perderam a modéstia, a educação e a civilidade. Fundiram-se com a coxinhada revoltada on line que acabou com redes sociais, devastando as regras mais básicas, e agora atropelam a Constituição. 
Até prova em contrário, qualquer um tem o direito de acreditar no que quiser — no PT, na mula sem cabeça ou em bula de remédio. Não para eles. Se pudesse, esse pessoal construiria muros separando gente de “bem” e o resto. Tudo isso, obviamente, enquanto grita contra a ditadura bolivariana e manda os outros irem para Cuba.
Ao Globo, Túlio Dek se disse “um grande fã”, mas não entende como o ídolo “continua defendendo o PT”. Chico, um homem bem sucedido, branco, rico como ele, deveria ser como ele. 

O Rio de Janeiro que Chico ama talvez não exista mais. Acabou o sossego. Desta vez, o encontro com a milícia do ódio terminou relativamente bem. Da próxima, quem sabe o que pode acontecer?

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